Olá,
Escrevo estas palavras de forma anónima, não por vergonha, mas para proteger quem amo. Tenho vinte e poucos anos e uma história que nunca imaginei ter de contar publicamente, mas acredito que a verdade, dita com honestidade, também pode ser cura.
Cresci numa casa simples, cheia de amor, mas onde cada euro fazia diferença. Sempre quis ajudar os meus pais, que lutaram a vida inteira para que nunca me faltasse o essencial. Quando entrei na universidade e comecei a ganhar um pequeno rendimento, senti-me finalmente capaz de retribuir um pouco. Era pouco dinheiro, mas para mim significava responsabilidade e orgulho.
Foi aí que alguém me falou sobre jogos online “podes multiplicar o dinheiro”, disseram. Na altura, pareceu uma oportunidade. Com 20 euros, podia talvez pagar uma conta, ajudar em casa, sentir que era útil. No início, até ganhei. E essa pequena vitória plantou uma semente que se transformou num vício silencioso, perigoso e extremamente solitário.
O jogo tornou-se o lugar onde eu fugia da ansiedade, da exaustão, das inseguranças que sempre carreguei. Houve dias em que ganhei muito… mas nunca consegui parar. Perdi tudo vezes sem conta, sempre a tentar recuperar, sempre a acreditar que “da próxima compensava”. E cada derrota vinha acompanhada de culpa, choro, tremores, noites sem dormir, medo, pensamentos que não me deixavam respirar.
A verdade é que a terapia ensinou-me que o vício nunca é só sobre o jogo. É sobre a pessoa que tenta sobreviver por dentro.
E eu estava a desmoronar. E ainda estou.
Contrai dívidas. Várias. Todas em silêncio. Sempre a pensar que ia conseguir pagar. Sempre a tentar esconder dos outros aquilo que já não conseguia esconder de mim: estava presa.
A dívida total chegou perto dos 30 mil euros. Aos poucos, com muito esforço, consegui reduzir. E com ainda mais sacrifício, muito trabalho e terapia, consegui baixar para os 12 mil euros que faltam hoje.
Já percorri um caminho enorme, mas este último pedaço pesa como se fosse o maior.
Estou em terapia há mais de dois anos, lido com ansiedade severa, com depressão, com a frustração de tentar engravidar sem sucesso,, endometriose profunda, com a pressão do trabalho, burnout, com culpas que carrego desde que me conheço. Este ano 2025 foi o pior ano, ansiedade pesada, depressão, baixa prolongada por tuberculose, diagnóstico de endometriose profunda após 1 ano a tentar engravidar, cuidar de um familiar em fase terminal em casa até ao último suspiro, dor, desgaste fisico e emocional, querer melhorar a minha vida. Tenho um marido presente, amoroso, que fica mesmo quando eu sinto que não mereço. Tenho tentado reconstruir-me, peça por peça. Mas a dor, a culpa teima em permanecer.
Existe ainda um peso enorme: 12 mil euros de dívida.
Para uns é pouco; para mim, é a diferença entre continuar a lutar ou sentir-me para sempre atolada no erro que cometi.
Não peço que paguem a minha vida.
Não peço que anulem as consequências das minhas escolhas.
Assumo tudo.
Peço apenas ajuda para aliviar este peso financeiro que intensifica a ansiedade que tento diariamente controlar, para que eu possa, finalmente, focar-me na minha saúde, na minha recuperação e no meu futuro.
Qualquer ajuda, por mais pequena que pareça, já é um passo gigante no meu recomeço.
E se não puder ajudar financeiramente, uma partilha ou palavra de apoio já me abraça de alguma forma.
Obrigada por lerem. Obrigada por verem a pessoa por trás do erro. Obrigada por acreditarem que recomeçar é possível.

